Vanessa Giácomo na Stalkeados por Luiz Alberto
Queridos leitores, trago aqui, neste domingo de entretenimento na sua Revista PORTFOLIO, mais uma entrevista que amei fazer! A atriz Vanessa Giacomo é puro poder na cena da dramaturgia brasileira! Mulher de talento, estudiosa, sagaz e se dedica intensamente no aprimoramento do seu oficio.
A mãe do Raul, do Moisés e da Maria é encantadora. Ela é daquelas pessoas que a gente quer saber mais e mais e não se cansa de ouvir falar da sua gloriosa carreira e do amor que dedica ao trabalho e à família. Não quero me estender muito nesta abertura… Quero que você venha comigo conversar com ela. Acompanhem o L A aqui de vocês. Espero que gostem.
LA: Vanessa, que maravilha! Prazer ter você aqui! Que bom conversar com você! Aqui tem um fã seu, talvez o número 1! Te acompanho em novelas desde sempre. (risos)
VG: (risos)
LA: Vamos conversar de novela. Adoro quando faz uma cabocla brejeira ou quando faz uma malvada… As malvadas eu amo. É com muita honra que eu recebo você aqui, tá? Muito feliz, muito feliz, porque era louco para te entrevistar. Até conseguir achar o caminho das pedras. Achei a sua assessora Muniky que foi a minha salvação.
VG: O prazer é todo meu. Estou muito animada! Vambora!
LA: Vamos falar então da garota de 13 anos que encenou uma peça lá em Volta Redonda, cidade natal dela e que se chama Valsa Número 6 de Nelson Rodrigues. Que estreia hein?
VG: É verdade. Nessa peça eu tive a certeza absoluta de que era isso que eu queria seguir para toda minha vida. Eu já fazia teatro amador. Meu professor era o Carlos Eduardo Giglio, do Grupo Procênium, e aí ele perguntou, “vamos fazer um monólogo?” Eu respondi, “nossa! Mas minha primeira peça é um monólogo?” Ele respondeu, “vamos embora, você consegue, a gente ensaia.” Tínhamos pouquíssimo tempo para ensaiar e era para um festival pequeno de teatro. Falei “tá bom, bora!” O que não me falta é coragem. Sou uma pessoa com uma característica assim, sou muito corajosa, encaro todos os desafios que vem pela frente. Nada me faz temer, sabe? O novo. Acho que quando vejo alguma coisa que sai da minha zona de conforto, me instiga muito mais, porque eu quero aprender, gosto de aprender, gosto de desafio, gosto do frio na barriga. Então, fui e encarei esse desafio. Falei “Nelson Rodrigues, vamos lá! Me abençoe aí pelo amor de Deus, vou logo fazer a minha estreia num festival!” (risos)
LA: (risos) E num monólogo!
VG: Num monólogo. E todas aquelas coisas que acontecem no teatro, não é? Você na coxia e já começa a achar que esqueceu tudo e “olha meu Deus se eu esquecer tudo, lascou, porque eu não tenho ninguém para dar deixa de nada!” E aí foi incrível, foi muito legal. Logo na sequência, decidi que era isso mesmo que eu queria. Ficamos um tempo em cartaz com essa peça, inclusive fiz outros trabalhos, e então decidi me mudar para o Rio de Janeiro, aos 18 anos, porque queria fazer faculdade de cinema. Prestei vestibular para Faculdade de Cinema e logo entrei para fazer a novela Cabocla. Estava com 18 para 19 anos e foi uma grande mudança, uma mudança radical na minha vida. Muito positiva. Fiz o teste sem saber que era uma protagonista. Fiz o teste sabendo que era a Zuca, mas não sabia o tamanho da Zuca e quem era ela e quem tinha feito a Zuca. Foi ótimo para mim não saber nada disso.
LA: Ótimo. Assim não teve pressão…
VG: Não tive pressão e aí, logo que eu passei no teste, o Ricardo Waddington me chamou e disse, “você vai fazer uma personagem que a Glória Pires fez do Benedito Ruy Barbosa. Ela é a personagem título da novela.” Quando ele acabou de contar, falei “Ai meu Deus, que coisa maravilhosa!” A Glória é uma atriz que me inspira demais, então, fiquei muito feliz. Acho que o universo conspirou muito a favor.
LA: Ai que bacana! E Cabocla, tem uma coisa… Você teve aquela coisa de brejeira, com aqueles termos da menina do interior, aquelas coisas de “aara!” “ô sô!” Aquelas coisas que eu amo. Amo você nesses papéis assim. Como também amo você nos papéis de malvada, que vamos falar depois. Porque suas malvadas foram sensacionais!
VG: (gargalhadas)
LA: Adoro assistir novelas, sou noveleiro de carteirinha e muito fã seu e adoro novela, não tem jeito.
VG: É… Novela faz muito parte da cultura, está enraizada.
LA: Faz parte. Acho que se eu for morar em qualquer outro país, tenho que assinar as novelas daqui, assinar a TV daqui, para poder assistir. Porque as novelas brasileiras, ninguém tem dúvida, são as melhores do mundo. Novelas que arrebatam corações do mundo inteiro, não é? Tenho uma curiosidade, você sabe para quantos países foram essa novela?
VG: Iiii, muitos né? Não tenho noção não, mas eu tenho uma história curiosa quando fui para Cuba para um festival de cinema lá. Quando cheguei ao aeroporto as pessoas me olhavam, assim, muito curiosas e falavam, “Zuca! Zuca” Falei “Meus Deus do céu! Será uma coisa da minha cabeça e tal?”
LA: (risos)
VG: E aí eu fui numa estreia, que era até do Rodrigo Santoro, tinha o Benicio del Toro fazendo esse filme com ele, e foi uma loucura tão grande no teatro, as pessoas me gritando, “cabocla Zuca, cabocla Zuca!!” Acabou que me tiraram da plateia e falaram assim “você vai ter que ir para o camarim deles porque não tem condições de ficar na plateia” E falei “pelo amor de Deus filma isso!” Quando levantei, o teatro inteiro aplaudindo, uma recordação maravilhosa. Filmei aquilo tudo. Mas, cadê? Perdi tudo. Perdi a câââmera!
LA: Ahhhh, que pena! Mas ficou na memória.
VG: Você não está entendo. Eu passava e os cubanos queriam me pagar lanche. Fui recebida com muito amor, muito carinho. Foi um lugar que me acolheu assim. Acho que Cabocla foi uma das novelas que mais fez sucesso em por lá.
LA: Que maravilha! Mas é uma super produção, não é verdade?
VG: Sim. E em Portugal também. Ela fez muito, muito sucesso…
LA: Depois de Cabocla você então foi para Duas Caras. É isso?
VG: Sinhá Moça. Fiz três novelas do Benedito na sequência. Fiz Cabocla, Sinhá Moça e Paraíso.
LA: Você participou também daquele filme Jean Charles. Adorei esse filme. Você fazendo uma imigrante brasileira em Londres e lutando pela sobrevivência…
VG: É um filme que gosto muito. Também acho muito legal a forma como foi filmado. Especialmente porque o Henrique Goldman, nosso diretor entregou, se não me engano, o roteiro para o Selton Melo e para o Luiz Miranda e disse pra mim, “eu não quero que você tenha o roteiro desse filme.”. Eu falei “tá louco Henrique, pelo amor de Deus.” E ele, “não, você não vai ter o roteiro. Você vai chegar no set e você sabe a história.” Ele me colocou para viver na casa da personagem que interpretei. Conheci a mãe, conheci a prima, todo mundo. Eu tive toda a vivência, toda a experiência da vida que ela tinha. E aí ele, “agora você vai chegar no set, vou te falar só o tópico, onde a cena vai terminar. Ó, hoje, é o seu primeiro dia de emprego e eu vou gravar esse filme na sequência da sua personagem.” Respondi, “tá”. Eu cheguei e foi exatamente isso. “Ó, você chegou ao aeroporto, hoje é seu primeiro dia em Londres, você não conhece ninguém. Você está conversando aqui, você não fala inglês e você precisa entrar no país, você foi parada pela imigração.” Ele ia me narrando assim e o resto era comigo, “agora Improvisa!”
LA: Tem aquela hora que o próprio personagem Jean Charles te deixa para pegar um ônibus, ensina você a pegar ônibus. Eu adoro esse filme, tá? Acho que assisti umas dez vezes. A história dele é uma história que os brasileiros passam lá fora. É uma história muito triste. Ele foi lá tentar a vida e tal…
VG: Atrás de um sonho. Acho um filme singelo, sabe? Selton arrebenta fazendo ele ali, o Luiz (Miranda) também tá muito bem. É um filme que me emociona, me toca num lugar muito doido. Meu irmão mora até hoje nos Estados Unidos. Foi muito novo para lá para estudar e mora até hoje. Lá ele tem a empresa dele, mas, acho que a gente se coloca no lugar dessas pessoas que saem do país que vão atrás de sonhos, sabe? E eu acho que o filme tem muito da essência do brasileiro nesses personagens. É muito bom.
LA: E da solidão que eles vivem.
VG: Sim.
LA: Lá você se entrega aos amigos e nem sempre são amigos de verdade. Porque cada um quer saber de si mesmo, enfim, uma história muito tocante. Ah, e teve um show do… Ai meu Deus, eu esqueço o nome dele, o da música Cigana Sandra Rosa Madalena, eu esqueci… Peraí: Sidney Magal!
VG: Sidney Magal maravilhoso também! Sensacional aquela participação.
Vanessa Giacomo – Revista PORTFOLIO – capa da semana (4)
LA: Pois é gente! Eu achei tudo nesse filme muito bem feito. Parabéns! Parabéns para todos vocês. E vamos às novelas. Porque agora você está na como uma policial.
VG: Pega-Pega.
LA: Mas antes de Pega-Pega tenho que falar uma coisa aqui impressionante! Você foi indicada para mais de 17 prêmios, é isso?
VG: Acho que foi. (risos)
LA: E ganhou mais de 10 prêmios?
VG: Com Cabocla ganhei bastantes prêmios. Acho que até prêmios em outros países que você descobre depois que participou e que ganhou e tal. É muito gratificante saber, porque sempre me dedico muito, visto a camisa em todos os personagens que eu faço. Tenho muito respeito por esse trabalho, então, quando pego algum trabalho, e é qualquer trabalho que seja não depende do tamanho dele, me dedico igual e o meu tempo vai ser para aquilo ali, sabe? Para estudar, para ler, para assistir a filmes de referência, para entender como o corpo dessa personagem vai se movimentar dentro daquilo e aí vivo, realmente intensamente. Porque tem tantos amigos, colegas que estão no meio da arte que querem um espaço e que, muitas vezes, tem um talento gigante e não conseguem ter um reconhecimento. Então eu acho um privilégio viver da arte, viver do meu trabalho desde muito nova e acho que se eu não me dedico 100% para aquilo ali é um desperdício.
LA: Exatamente, porque é um país onde temos vários talentos não reconhecidos. É uma pena isso. Você também fez a minissérie Amazônia, da Glória Perez. Trabalhar com um texto de Glória Perez hein, nossa…
VG: Nossa! Não é?
LA: Que menina sortuda! Que estrela é essa garota? (risos)
VG: Tenho uma extrema admiração por ela. Glória Perez, eu acho, é uma mulher que consegue criar mocinhas com uma força gigante. Todas as mulheres tem muita força nas novelas dela, tudo que ela cria. Então, a considero de extrema importância para nós mulheres. Também porque eu me sinto muito representada por todas as mulheres que ela cria. Desde Jade, personagem da Juliana Paes em Caminho das Índias, todas as personagens femininas que ela cria, que ela desenha, tem uma força gigante. Então, amei ter feito Amazônia com ela.
LA: Eu amo o link que ela faz da personagem com a situação atual. A personagem tem sempre um link com uma mulher que sofre de alguma agressão, uma mulher que sofre preconceito…
VG: Sim. Ela é muito visionária. É impressionante.
LA: E aí, você fez Duas Caras de Aguinaldo Silva.
VG: Também trabalhei bastante com Aguinaldo Silva.
LA: Maravilhoso, não é?
VG: Fiz a última novela dele, Duas Caras, e eu estava grávida. Meu Deus do céu! Acho que foi a primeira novela das 9 que eu fiz. E aí eu contei para o Wolf Maia “tô grávida, não vou poder fazer e tal é um momento super feliz, meu coração preenchido como mãe, mas poxa, não vai dar para fazer essa novela”. Então ele falou com Aguinaldo e me trouxe o recado “O Aguinaldo quer que você faça, mesmo que faça só o início, a primeira fase, depois ele vai inventar um desfecho para sua personagem. Você vai sair e tal.” Então fiz a primeira fase mesmo grávida, engravidando, tendo bebê e saí quando ela teve o bebê. Costumo dizer que eu sou uma pessoa que tenho o privilégio de trabalhar com vários autores e também de pegar personagens muito diferentes, isso é muito legal. Fazer uma alcoólatra, fazer uma vilã numa novela das 9, de Walcyr Carrasco, que eu amo, amo, amo.
LA: Porque aquela vilãzinha de Amor à Vida, Aline, foi danada.
VG: (risos)
LA: Ô vilãzinha danada! Agora, ela teve um desfecho terrível porque foi matando, foi fazendo…
VG: Teve um desfecho horroroso. E o Walcyr tem uma coisa que ele acompanha muito o que o ator entrega. Não é mudar o texto, jamais. Eu não mudo o texto de autor, mas, a intenção que você dá. O seu tempero ali. Vamos dizer assim. Ele entende muito rápido. Ele é muito inteligente porque entende rapidamente o que você quer passar e ele vai escrevendo de acordo com aquilo ali. Ele vai, vai, vai, então, a Aline foi em conjunto com ele e com a direção, obviamente, do Maurinho Mendonça, do Wolf… Foi tudo muito planejado para terminar daquele jeito, sabe?
LA: Grande sacada. Vocês, praticamente, se comunicam através da sua interpretação e ele como autor vai entendendo como você vai desenvolvendo seu personagem. Isso é maravilhoso não?
VG: Muito!
LA: Me diga uma coisa, como é que você se prepara para determinados personagens? Para Zuca foi de um jeito, para Sinhá Moça, acredito eu, foi de outro. Para o filme, já vi que você teve que aprender tudo na raça. (risos) Mas e o personagem de novela?
VG: Depende do personagem. Não tem uma regra. Tenho algumas coisas que eu faço sempre que é ler muito sobre o tema, principalmente se for uma novela de época, para entender. Eu sou muito curiosa, então quero entender por que usa luva, por que usa chapéu? Por que bota aquela roupa daquele jeito? Quero entender esse universo porque acho que consigo deixar mais profundo, tudo com mais camadas. Isso eu faço sempre. Assisto a muitos filmes de referência. Tenho a Rafaela Leite, que é uma grande amiga e é uma pessoa que faz uma curadoria de filmes incrível. Minha parceira em todos os trabalhos. Então, ela faz uma curadoria, me manda tudo que acha que tem a ver com aquele universo. Não tem a ver com copiar e sim em se inspirar naquelas mulheres e naqueles filmes de época. Ou, se for uma personagem alcoólatra, assisto a personagens alcoólatras no cinema que marcaram história. Faço sempre esse estudo básico. Tenho aula de expressão corporal e tenho uma professora para isso. Faço isso tudo fora da Globo, que tem uma preparação também. É uma preparação completa. Como a gente recebe tudo muito antes, a preparação começa, às vezes, com um mês de antecedência da gravação, faço isso antes da preparação deles, entendeu? Eu tenho a minha, vou para preparação mais preparada, e aí eu começo a gravar. Mas acho que cada personagem tem alguma coisa diferente que posso acrescentar, né? Por exemplo, essa que você falou de Jean Charles, eu tive que fazer a vivência. Foi muito legal. Então quando consigo e tem uma oportunidade, acho super interessante ter essa vivência. Da Zuca, tive essa experiência, já sabia cavalgar e tudo. Mas aí fiquei montando no pelo do cavalo que é muito mais difícil. Então, tive que aprender isso, aprender a ordenhar, que eu não sabia, aprender fazer biscoitinho. Eu sempre gostei de cozinhar, eu cozinho desde nova, mas coisas assim da roça mesmo, caseira nunca havia feito. Aprendi a fazer costura, tricô, crochê, tudo isso.
LA: Acho que cada trabalho tem um aprendizado.
VG: Cada trabalho tem um aprendizado, exatamente. Em Cabocla, eles deixaram a gente num haras por dois meses. Foi a preparação mais longa que eu tive. Ficamos dois meses dentro desse haras e todo dia cavalgava, fazia docinhos, tricotava, fazia tudo e no final do dia éramos liberados. E, em Cabocla tivemos esse contato íntimo muito forte antes, de todo mundo, e até hoje todo mundo tem essa amizade. A gente tem um grupo de Cabocla por conta dessa amizade que ficou.
LA: Que bacana. Você fez uma alcoólatra.
VG: Fiz. De Aguinaldo Silva em Sétimo Guardião.
LA: Pesadão, não é? Como é isso aí? Como bate na atriz? Porque o alcoolismo é uma doença muito séria, chama muita atenção da gente, essas pessoas que tem o vício em álcool, enfim, drogas de um modo geral. Como é que essa preparação e como você se sentia logo depois de gravar? Fica um pouco daquele clima pesado dela ou tem que largar lá, deixar lá? Se despir todo dia daquele peso?
VG: Então, acho que cada ator tem uma forma de conduzir. A minha forma de encarar isso é realmente ter uma concentração absurda antes de a cena acontecer. Concentro-me mesmo ali pra entregar o meu melhor. Acabou. Acabou. Tirei a roupa, já foi! Não fico carregando esse peso pra cima de mim. Acho que a gente tem que desprender. Imagina, você faz uma vilã, faz atrocidades, você tem que tirar a roupa e sair de você. A primeira coisa que eu pensei, quando eu estava interpretando a Estela, era que eu tinha que ter muito respeito, porque você tratar de um tema que é tão relevante, tão importante, você precisa ter muito respeito para falar sobre sem clichê. Então, sempre opto por uma verdade cênica muito grande. Foi a partir do princípio de que eu não queria fazer nada exagerado e que quando tivesse a cena onde ela estaria totalmente alcoolizada, que foram umas três cenas, ali sim eu estaria realmente entregue àquele vício, que é muito triste e muito forte. Tive cenas muito marcantes, essas três cenas com a Elizabeth Savalla que foi a minha parceira, minha amiga querida que eu amo…
LA: Maravilhosa!
VG: A gente fez cenas muito importantes para minha carreira. Porque eu olho assim, como a gente chegou naquele lugar na cena, era uma complementando a outra e a gente não repetia a cena, a gente gravava tudo de primeira! E as cenas eram muito fortes, eram de um impacto muito grande. Então, não tinha como ficar voltando. A equipe se preparava inteira para fazer um jogo de câmera ali que não nos atrapalhasse e… Gravando! Era de uma só vez.
LA: De primeira! Porque eu acho, também, que esse tipo de cena é complicado você repetir, não é? A emoção bateu, tem que pegar aquele momento, acho eu que não entendo muito… (risos)
VG: Entende, claro que entende. Acho importante também se desprender de vaidades, sabe? Porque quando você fica preocupada, “ai meu cabelo não está bom. Ai meu olho. Ai, eu tô com olheira, não sei o que!” Eu sou uma atriz totalmente desprendida em relação a isso. Se tiver que tirar toda a maquiagem, me borrar, aparecer meu melasma que tenho, não tô nem aí, entendeu? Eu tiro, faço tudo e entrego ali. Inclusive é sempre sugestão minha me deixar o mais desmontada possível. Em qualquer situação que eu acredito ser real, porque eu olho e preciso acreditar. Então, normalmente, se você olhar todas as minhas personagens, você vai ver que não tem escova no cabelo. A não ser que a personagem peça isso. Mas normalmente eu lavo e vou, não faço nada no meu cabelo. Eu sempre peço para as meninas da maquiagem deixar a pele o mais natural possível. Não fico retocando a maquiagem durante o dia. Elas até ficam atrás de mim “Vanessa! Está suando, deixa eu passa não sei o que!” Mas eu tento buscar essa naturalidade porque acho que humaniza mais, aproxima mais. Acho que quando uma personagem é montada, é personagem que precisa de mais produção. Claro que isso depende da personagem, né? Mas acho que eu não fiz muitas personagens montadas assim, então nenhuma pedia muito isso.
LA: (risos) Personagens mais reais.
VG: A não ser a Malvina porque era uma personagem de época.
LA: A Malvina, tadinha. Eu tinha um amor por Malvina. Ela era tão abusadinha também, né? (risos)
VG: Super abusada. Ela não levava desaforo para casa. (risos)
LA: Nariz em pé! (risos)
VG: Tem uma curiosidade dessa personagem. A Malvina teve uma cena específica que eu apanho do meu pai e que ele sai me arrastando pela cidade inteira. Quando cheguei para gravar eles falaram “não tem dublê, a dublê não veio” Sei lá que o aconteceu, a dublê passou mal, não sei, não quis fazer, não lembro o que foi exatamente. “Não tem dublê, mas a gente tá esperando a outra dublê, vai demorar tanto tempo.” Falei “não, não tem que esperar dublê, vou fazer, porque eu quero fazer essa cena para mim. Eu tô pensando nessa cena do início ao fim da série, eu não posso deixar outra pessoa fazer, ele vai me arrastar. Como que ela faz?” “Ah, ela bota uma joelheira e aí tem um jeito sele puxar o cabelo que não vai machucar. Você pega aqui na mão dele e ele vai te arrastar, vai puxando a mão dele.” E disse, “tá, é isso? Vamos gravar!” E gravei. Inteira sem dublê e foi na raça!
LA: Parabéns garota Essa é a minha ídola!!!
VG: Ah, ah, ah. Em Pega-Pega também tive uma dublê maravilhosa, ela é incrível, faz várias coisas para Globo. Tem aquela cena que pula, no primeiro capítulo, que eu pulo da marquise em cima do ônibus. Ela fez a sequência, mas eu também fiz igual. Mas, pular da marquise em cima do ônibus, meu coração bateu mais forte.
LA: Depois você olhou para trás e disse “o que que eu fiz?”
VG: Mas eu fiz. “Deixa eu fazer, deixa eu fazer!” Ela fez porque repetia muitos planos, mas quando fechou eu fiz.
LA: Que legal! E a gente está revendo agora, vez em quando pego alguns capítulos, a sua personagem, a Antonia, é diferente de todas as outras que você já fez. Ela vive um amor e nesse amor existe uma questão pessoal, de ética. Apaixona-se por um cara que é bandido.
VG: Além da ética pessoal tem a ética profissional. Ela está cuidando desse caso e se apaixona pelo bandido do caso… Nossa! É complicado.
LA: Mas, felizmente, você sempre nos trouxe muita alegria com seus personagens. Isso é tão bom. Vanessa, eu sou tão seu fã… Te assisti tantas vezes. Eu vejo uma novela que tem você aí eu vou assistir.
VG: Ai, que delícia!!!
LA: Isso não é jogar confete não, viu? Te juro que não jogo confete. Sou noveleiro e sou jornalista há muitos anos e sou apaixonado por novela mesmo. Mas tenho minhas ídolas preferidas, você é uma delas.
VG: Ai, que delícia!!! Ai me Deus!!!
LA: Eu gosto de ver você, adoro. Adoro.
VG: Ganhei meu dia! Obrigada!
LA: E olha, sou totalmente antiético como jornalista. (risos) Eu falo mesmo, sou fã. Acho que os outros jornalistas não devem gostar muito de mim. Eu não tenho muita ética nessa questão, porque eu falo que eu sinto mesmo e gosto quando eu entrevisto uma atriz que sabe o que está fazendo e que mostra para gente, que nos presenteia. Isso é um presente que você nos dá, a sua interpretação é uma dádiva. Eu me arrepio de falar. Porque é presente pra gente e é tão emocionante ver e saber também da sua dedicação ao personagem. Então como é que é o telespectador não vai se apaixonar pelo trabalho da atriz, né? A gente já te fotografou tanto para o nosso instagram @revistaportfolio andando pelo shopping…
VG: Ah, verdade, vocês sempre tão carinhosos. Os meninos são muito fofos comigo.
LA: Eu já pensei, “acho que ela está cansada de os fotógrafos estarem atrás dela…” (gargalhadas)
VG: Não! Eles são muito delicados, muito fofinhos. São muito educados.
LA: É uma turma boa.
VG: Nossa! Aí, outro dia eles falaram “Vanessa, teu filho, esqueceu a máscara e o menino pediu para te entregar” E agradeci porque meu filho tinha acabado de falar “mãe, eu deixei a máscara que mais gosto no restaurante.” E eles foram lá atrás de mim e me entregaram.
LA: A gente já publicou muitas fotos suas e falei para o Giovanni, meu amigo e coeditor, “um dia eu quero entrevistá-la”. E não é que a Muniky me trouxe esse presente, entrevistar você, olha que maravilha?
VG: (risos)
LA: Você falou de filhos, você é mãezona, não é? Tirou o ano de 2016 para ficar com filhos, família e fazer um ano sabático?
VG: Foi de 2016 que eu viajei? Fiquei em Portugal? Não lembro agora. Ah, sempre que posso eu me dedico. Quero ficar perto, levo e busco na escola. Eu só não levo se eu tiver trabalhando, aí não tem como, não tem outro jeito. Mas sempre que posso, levo e busco, levo no inglês, levo no balé. Então, minha vida toda, Muniky sabe disso, às vezes, eu falo “ó, eu posso de tal hora até tal hora” porque duas horas eu busco na escola, tal hora eu faço isso, então, é tudo complicado. Mas acho que temos que participar da vida deles. É um momento que passa tão rápido, né? Piscou e já estão adultos. O meu de 13 já está gigante.
LA: Tem que participar. Eu, como pai solteiro de dois, desde de bebê, participei de toda a vida deles também. Hoje são meus grandes amigos, filhos, boa conversa a vida inteira. A educação faz parte disso, de uma boa conversa, de uma conversa franca e sincera, concorda comigo?
VG: Sim. Com certeza.
LA: Eu sempre faço das minhas entrevistas um bate-papo que acabo falando da minha vida e não tem nada a ver minha vida aqui, hahaha… É da sua, é da sua que a gente está falando.
VG: (risos)
LA: Você, ganhadora de vários prêmios. Olha, eu queria ficar a tarde inteira falando com você porque tem tanta coisa que eu tenho para falar, mas tem gente pedindo para eu parar aqui, sabe? Mas eu queria muito conversar mais porque tem muita coisa aqui sobre você para perguntar. Eu só te desejo mais sucesso, muito sucesso! Vanessa meu amor, muito obrigado por tudo, tá?
VG: Ah… Amei.
LA: Que paixão que é você. Agora sou mais fã do que antes! Beijos, muito obrigado pela sua generosidade.
VG: Luiz Alberto, muito obrigada a você! Você é um querido, iluminado, falou tantas coisas lindas, fiquei muito feliz, viu?
LA: Ai que bom. Ganhei meu dia, vou trabalhar feliz por ter conversado com minha ídola. Foi um prazer imenso! Queria que essa entrevista tivesse muito mais tempo porque você tem muita história para contar, e histórias maravilhosas. Talento puro e pura generosidade. Muito obrigado para você, minha linda.
VG: Obrigada!
LA: Beijo Muniky e obrigado!
Muniky: Beijo a vocês e qualquer dúvida a gente tá aqui.
LA: Tá bom amor.
VG: Beijo, Luiz Alberto. Fica com Deus. Tchau, tchau.
Sim, minha entrevistada foi essa estrela generosa com muito para contar. Não tivemos tempo para falar de mais filmes, mais novelas, séries e participações em dezenas de produções da teledramaturgia ou do cinema. A carreira é extensa e não cabe tudo aqui. Mas coube seu carinho, seu talento e o orgulho que senti dessa artista brasileira por realizar, de forma escandalosamente profissional e exemplar, o seu oficio, seu dom! Bravo Vanessa Giácomo! Muito obrigado por tantos personagens incríveis. Que venham mais, e mais, e mais…
Nota do Editor: A Muniky a quem me referi na entrevista é a assessora da Vanessa.
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